
EFICIÊNCIA DA DEFICIÊNCIA
NA SALA DE AULA
Paulo de Tarso Carvalho de Araújo
Nasci em 1981, no Recife capital de Pernambuco, em uma família simples que batalhava diariamente para sobreviver em um país com índices alarmantes de desigualdade social. Lembro-me dos relatos de meus pais sobre os inúmeros sacrifícios feitos para garantir o básico: alimento na mesa, roupas e um teto onde pudéssemos repousar à noite. Entre as várias adversidades, havia ainda o fator de eu ter nascido com baixa visão. No instante em que alguém ouvia falar sobre minha deficiência, já surgia o rótulo: “inapto”, “imprestável”, “incapaz de ter uma vida normal”. Naquela época, e infelizmente ainda hoje, muitas pessoas acreditam piamente que qualquer condição especial seja baixa visão, autismo, síndrome de Down ou outra deficiência se traduz automaticamente em impossibilidade de realização plena na vida.
Cresci escutando esses murmúrios de desconfiança e, por muitas vezes, cheguei a duvidar de mim mesmo. Afinal, a forma como a sociedade me enxergava ou melhor, me ignorava me fazia questionar se eu, de fato, conseguiria trilhar meus caminhos sem depender permanentemente da boa vontade alheia. O tempo passou, e percebi que o problema não estava em mim ou na minha baixa visão, mas, sobretudo, em todo um sistema de crenças limitantes, construído para manter a maior parte da população numa posição de subserviência.
Digo isso porque não enxergar bem era apenas a ponta do iceberg. Rapidamente fui entendendo que o verdadeiro desafio estava na forma como a educação, o trabalho e as oportunidades são organizados no Brasil. Desde cedo, ouvi repetidamente que, para “dar certo na vida”, eu deveria me esforçar para tirar boas notas, “comportar-me” na sala de aula e obedecer às autoridades. Entretanto, por trás desse discurso, parece haver uma engrenagem muito maior, que interessa a uma pequena elite econômica e política. São eles que ditam as normas, que definem o que pode ou não ser ensinado, quem merece ou não ter voz.
ISBN: 978-65-83366-20-7
